Alegria é hoje uma palavra que,
como um punhado de outras da nossa língua, acabou servindo para designar um
punhado de coisa. Na maioria dos dicionários, a palavra é definida como: “vocábulo de origem teutônica, cujo sentido
está relacionado a uma variedade de emoções ou sentimentos positivos, que vão
desde contentamento, satisfação, bem estar até inteireza, felicidade ou júbilo.”
Mas, talvez seja ainda necessário
explicar, com mais clareza e profundidade, o verdadeiro significado dessa palavra
para compreendermos, exatamente, o que estamos falando quando dizemos: alegria.
Em seu sentido real, alegria é
sinônimo de ausência de sofrimento. Vem do latim vulgar alacri (a=não + lacri=pranto,
lagrima, choro). Logo, significa um estado onde não há choro nem lágrima, ou
seja, não exista dor ou sofrimento.
Portanto, alegria é diferente de júbilo,
sentimento que toma conta da pessoa quando recebe uma boa notícia, vê algo ou
alguém querido ou vence uma disputa. E muito menos é euforia, estado
psicológico antinatural resultante da ingestão de certo tipo de bebidas, comidas
ou drogas.
Alegria é o estado de
espírito natural do ser humano quando está isento das influências externas. É
o bebê em repouso no útero da mãe. Ou seja, em seu estado original. Estado que
a pessoa perde e do qual se distancia à medida que vai se tornando cada vez
mais suscetível às impressões que vem de fora dela mesma.
Voltar a esse estado original, ou
seja, readquirir a alegria não é uma tarefa fácil, apesar de ser simples. Começa
com a realização da mais curta e mais difícil viagem que alguém pode e deve
fazer. É caminhar para dentro si mesmo. Retornar ao centro, voltar ao ponto
inicial e encontrar a fonte geradora do próprio ser.
E, segundo todas as tradições de
sabedoria da humanidade, não existe nenhum outro meio de realizar essa busca a
não ser pela conscientização e controle dos processos físicos e mentais, a anulação
do poder do ego, o silenciar dos pensamentos. Enfim, pela meditação.
E o que é, realmente, meditar?
Como foi dito no início, por causa
do uso indiscriminado e abusivo das palavras, dá-se o nome de meditação para
muita coisa. Por ter se tornado “moda”, meditar tem, atualmente, inúmeros jeitos
e significados.
Mas, no nosso caso, estamos tratando
da meditação como instrumento de busca e realização de todo o potencial de divindade
existente no fenômeno humano.
Para nós, em primeiro lugar, meditação
não é “fuga do mundo”, mas o contrário: um mergulho profundo na existência
concreta. Também não é uma maneira de entorpecer, mas sim de aguçar a percepção e os sentidos, tornando-os mais finos, penetrantes e
sensíveis.
Por isto, não consideramos o ato de
meditar como forma de desconectarmos de tudo o que nos rodeia, mas sim de
estabelecermos ligações reais, puras e verdadeiras conosco, com as pessoas, com
o mundo, com a História e, enfim, com a Suprema Realidade que está em tudo e
que tudo contém.
E assim, a busca da alegria, pela
meditação, resulta também descoberta da prática da atenção e do exercício do
cuidado. Juntos, estes três modos de ser é a realização da Suprema Divindade,
cuja partícula brilha, pulsa no coração de todo ser vivente. Portanto, são os
objetivos maiores da existência humana.
A atenção é a prática que permite a
percepção da Verdade e da Beleza em tudo e a descoberta e superação das
armadilhas do ego. Dá ao ser humano o poder de experimentar a eternidade. Ou
seja, de estar firme no agora; “presente no presente”, que é, na verdade o
único tempo que existe. O passado é apenas a impressão deixada pelo movimento dos
corpos e o futuro a imaginação de movimentos que poderão ou não acontecer.
A alegria que anima e a atenção que
equilibra são as atitudes básicas da existência em plenitude. São elas que nos capacita
para o exercício do cuidado, a mais perfeita forma de relação dos seres com
eles mesmos, com os outros, com o mundo que o circunda e com a Sublime Realidade
que o transcende, mas que pode, finalmente, alcançar.
Voltaremos ao assunto. Pois, para
nós, vivenciar e promover essa busca, essa atitude e essa forma de agir, é única
missão a que nos sentimos chamados.